quinta-feira, 6 de março de 2014

Amellie, querida, quer matar-me de susto? - Disse Samanttha puxando-a dando um longo abraço.

E você me assustou agora mamãe - Disse Amellie, beijando-a na face.

Desculpa querida, mas já lhe disse pra não brincar perto do penhasco. É perigoso. 

— Não estava brincando mamãe, estava conversando com a.... - Amellie olha para trás e depois para os lados. - Mamãe você viu pra onde foi a menina que estava aqui?

— Que menina docinho? Só vi você, quase pensei que iria... esquece.

— Tinha uma menina aqui mamãe, de camisola branca, descalça, ela deixou cair sua fita de cabelo vermelha no penasco, olhe pode ver a fita está presa entre as rochas.

Samanttha aproxima-se da borda do penhasco e olha pra baixo.

— Não tem nada docinho.  - Disse Samanttha.

Ao ver o rostinho decepcionado da Amellie, ela acrescenta:

— A onda deve ter levado querida, e a menina deve aparecer novamente, e quando isso acontecer você aproveita pra apresentar-me a ela, combinado?

Amellie sorri e diz:

- Combinado mamãe.

- Agora vamos que estamos atrasadas, tenho muito o que fazer na Hospedaria.

A figura frágil achava-se perigosamente próxima da borda do penhasco. A longa e exuberante cabeleira ruiva, agitada pela forte brisa que soprava do oceano. O vestido de algodão branco chegava-lhe aos tornozelos e deixava expostos os pequenos pés descalços. Mantinha os braços esticados, a palma das mãos voltada para a massa espumante do mar, abaixo, o rosto voltado para o alto, como se estivesse se oferecendo em sacrifício aos elementos.

Amellie, que estava entediada em casa, resolve brincar ao redor da casa, quando é surpreendida com a visão de uma menina, mais jovem que ela na beira do penhasco.

Amellie tinha 7 anos, cabelos loiros cacheados,  olhos esverdeados.  É uma menina alegre e que gosta de fazer muitas traquinagens. Tinha perdido seus pais e presenciou o assassinato deles quando tinha 4 anos, Clarie até tentou questioná-la quanto ao assassino, mas Amellie nada falou sobre o assunto. Samanttha acredita que a menina tinha bloqueou da sua mente aquela cena terrorizante.

Amellie continuou a observá-la, nunca antes tinha visto uma criança próxima a casa, o que fazia ela brincar muitas vezes sozinhas, só as vezes brincava com Edmundo, no qual ensinava a lutar com espada de madeira.
Amellie alegre, com a ideia de fazer uma nova amiga e de ter alguém com quem brincar, corre ao seu encontro, ao aproxima-se percebe que o vestido de algodão branco que a menina usava era na verdade uma camisola.

- Oi -  Disse Amellie, parando a uns dez metros da garota, que permanecia imóvel.

Aproximou-se mais da garota.

- Eu sou Amellie, moro naquela casa. - Apontando na direção da Casa do Penhasco. - Qual o seu nome? Mora perto daqui?

Não obteve nenhuma, antes que pudesse perguntar algo a mais, a garota se voltou lentamente e encarou-a com os olhos sem vida.
Amellie sorriu, tentando ser simpática.

- Você quer brincar comigo? -Disse Amellie, numa tentativa de cortar o silêncio.

A garota permaneceu imóvel como se a fitasse, sem se afastar do ponto onde se encontrava na borda do penhasco.

- Ou podemos ir em casa, comer um fatia de bolo, a minha mãe faz cada bolo delicioso, a tia Clarie também, mais ela muito pouco cozinha.

A garota continuo em silêncio, apenas virou-se lentamente e apontou para baixo.
Amellie aproximou-se da borda do penhasco e olhou na direção aonde ela aprontava, viu uma fita vermelha presa entre as rochas.  Quando alguém a segurou-lhe os braços.
AMELLIE - Gritou Samanttha colocando enrolando um pão no guardanapo e colocando no cesto - Amellie querida, vamos, precisamos chegar na hospedaria antes que os hospedem acordem. 

Samanttha após vários dias dormindo na hospedaria, resolve ir para Casa do Penhasco, já que a Clarie no momento se encontrava a viajando.

- Aonde está essa menina - Pensou Samanttha.

Após arrumar a cesta, vai a procura de Amellie. Entrando na sala principal ver vários envelopes e um papelzinho dobrado no chão. Não tinha reparado ontem quando chegou sonolenta em casa.
Abaixa-se e pega todos, não dando atenção aos envelopes que estavam lacrados, pois sabia que se o abrissem Clarie saberia e brigaria com ela.  Mas não pode conter a curiosidade referente aquele  pequeno bilhete, no qual pôs-se a ler.

-Tão simpático esse Sr., se ele ainda estiver hospedado na Viúva Negra, vou preparar-lhe uma deliciosa torta de maça em agradecimento - Falou Samanttha pra se mesma.

Coloca o bilhete no meio dos envelopes, e sobe as escadas, entrando no quarto de Clarie. Deixando as correspondências em cima de uma mesinha próxima a janela. Quando olha pela janela ver Amellie, na boda do penhasco.

- Santo Jáh - Diz Samanttha espantada.

- AMELLIE SAIA JÁ DAI....


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ainda agora, era difícil olhá-lo, sem notar o tom verde cinzento de seus olhos, seu cabelo brilhante, o forte ângulo de seu queixo, sua boca curvada que parecia chamá-la, tentá-la, convidá-la a…
Claire olhou em seus olhos.
O que ele estava pensando? – Perguntou-se a se mesma.
Ela se endireitou e se esticou enquanto ele tirava suas botas, desabotoou seu cinturão, e começou a tirar suas calças, tudo com deliberada tranquilidade.  Isso a irritou, algo que Clarie não tinha era paciência.

- Te apresse -  ela murmurou.

Ele olhou para baixo, com um sorriso insolente no rosto enquanto terminava de tirar as calças.

 - Paciência, minha dama - ele murmurou.

Clarie desejou golpeá-lo outra vez, mas afogou esse impulso.  
Então, sem cerimônia, ele baixou o último objeto.
Seus olhos faiscaram perigosamente.

-E agora o que quer? - Ele perguntou docemente.  - Você gostaria de ver se te cabe?

Se ele queria insultá-la, tinha falhado. Clarie foi se acostumando com o passar dos anos, com os  insultos, ao que ela tinha aprendido a responder, ao princípio com a espada e mais tarde com a indiferença.

- Toma, minha lady -  disse seu companheiro, jogando as  suas e as roupas do seu companheiro aos pés dela.
- Perdoe a meu amigo. É lento mentalmente e muito rápido com a língua. Tirou-nos nossas armas. Tem nossas roupas. Você ganhou. Rogo-lhe, deixe-nos ir em paz.

Rapidamente, ela tomou as roupas do homem insolente e de seu companheiro com sua mão livre, as pondo logo sobre seu ombro. Então saudou os homens com uma breve sacudida de cabeça e se apressou a sair dali.
Clarie estava afastando-se quando o insolente a chamou.

- Esqueceu-se de algo, dama.

Sempre em guarda, ela virou-se com sua espada pronta para atacar. Mas era muito tarde.  Algo passou assobiando perto de sua orelha e se alojou no tronco da árvore ao lado dela. Era uma adaga.
Ela se sobressaltou. A adaga não lhe tinha acertado por uns poucos centímetros. Mas quando ela fixou seus olhos no homem que a jogou, parado ali em aberto desafio, soube logo, que ele tinha tido a intenção de errar. O que era ainda mais ameaçador.
Sua mensagem era clara. Ele podia tê-la matado. Ele simplesmente escolheu não fazê-lo.

Clarie  embainhou sua espada e deu-lhe as costas, se afastando com toda a calma,  com um sorriso no rosto, sabia que o veria novamente e ela gostava de um bom desafio, e sabia que com ele seria uma boa experiência.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Ainda estava escuro, e pelo que via ainda iria demorar pra amanhecer, decidida a relaxar, e confiante que naquelas horas não encontraria ninguém acordado pela cidade, resolve banhar-se no lago de Leiria.
Ao Chegar no lago, Clarie amarra sua égua numa árvore próxima, e começa a despir-se.
Totalmente nua, solta-lhe os cabelos. Em seguida, com a graça de um boto, mergulha nas águas cristalinas.

***

Dick e Colin eram mercenários, e estavam planejando sua viagem logo ao amanhecer quando ouviram ruídos de cascos que ressoavam atraindo suas atenções. Achando que era o patrulheiro da cidade, e como Colin tinha problemas judiciais, resolveram se esconder.
“Por Jáh, que bela visão” – disse Dick. Olhando a delicada figura de cabelos escuros que cruzava o campo verde e se dirigia à lagoa, despindo-se à medida que chegava ali.
Eles estavam agachados, escondidos detrás de uns arbustos, espiando a esplêndida donzela a banhar-se na lagoa.

****
Clarie lançou seu comprido cabelo negro sobre um ombro. Podia sentir os olhos dos intrusos nela, tinha-os sentido por certo tempo.
Não que ela se importasse de ser apanhada banhando-se. Não sentia incomoda ou com vergonha. Como poderia alguém estar envergonhada ou orgulhosa de ter tudo o que as mulheres possuíam? Se um inoportuno moço conseguia observar com equívoca luxúria, não era mais que uma tolice de sua parte.
Clarie passou seus dedos pelos seus cabelos molhados e lançou outro olhar crítico para onde achava que se encontrava os intrusos.
Os olhos cravados nela possivelmente pertencessem a um par de jovens curiosos que nunca tinham visto uma donzela nua. – Assim pensou.
Clarie se meteu debaixo da água, para esfriar sua irritação. Agora emergia subitamente, sacudindo a cabeça e salpicando a água.

*****
Ao lado dele, Dick gemeu, de prazer ou dor, Colin não estava seguro.
Subitamente dando-se conta do significado do gemido, Colin o golpeou no ombro.
- Por que me golpeia?- Dick sussurrou.
- Quer que ela o ouça?

Ambos voltaram seus olhares à lagoa.  Foi quando perceberam que a formosa donzela, não estava mais lá.

-Cadê ela? – Colin perguntou

Atrás dele, a feminina voz disse claramente:

-Aqui.

Colin não se atreveu a vira-se. A espada dela pressionava firmemente contra uma veia que pulsava em sua garganta. Ao lado dele, Dick abriu a boca surpreso, cambaleou e caiu quando quis olhá-la. Se Colin não tivesse  furioso com ele mesmo por ter baixado a guarda, teria se rido com a cena.

- Rapazes, não estão um pouco grandes para andar espiando uma donzela  banhando-se?
- Seu tom era zombador. - Esperava encontrar jovens idiotas aqui, não homens adultos.

Dick, em vez de vir em sua ajuda, estava apoiado sobre seus cotovelos com uma expressão perplexa que comunicava ao mundo que a morena era ainda mais bela de perto. Ele se perguntou se ela ainda estava nua.

-Vocês não são daqui -  ela adivinhou.-O que estão fazendo nestas terras?

Colin se negou a responder. Não devia à mulher nenhuma explicação.  
Mas Dick, o traidor, estava encantado pela mulher e respondeu:

-Não tínhamos intenção de ofender ou incomodar, minha lady -  ele disse quando se recuperou de seu estado de choque.

-O asseguro. Ele sorriu, fazendo que seus olhos cor esmeralda dançassem de uma maneira que nunca falhava em seduzir as moças.

- Veja, somos simples mercadores, quer comprar algo? - Apontando pra suas mochilas.
Enquanto Dick a mantinha entretida, Colin ganhou vantagem de sua distração para deslizar sua mão lentamente pelo flanco de seu corpo e logo ao longo de sua panturrilha.  
Será que consigo tirar a adaga da bota? – Pensou Colin.

Dick levantou suas sobrancelhas em fingida inocência e seguiu falando.  – Para a dama, fazemos um bom desconto.

A espada subitamente se afundou na carne do pescoço de Colin, em violento contraste com a voz melodiosa da mulher, que disse:
-Espero que te esteja coçando a perna e não que esteja tratando de tirar algo da bota.

Ele apertou os punhos. Maldição! Ser ameaçado a ponta de espada por uma donzela! Por Jah! Era humilhante.

-O que quer?- ele grunhiu.
-O que quero? -  ela repetiu - Hmmmm. O que quero? -  Ela baixou a espada e golpeou a coxa de Colin irreverentemente com a espada. Mas antes que ele pudesse reagir, ela a moveu rapidamente de volta a sua garganta.

- Suas roupas.

Dick afogou sua risada.
Ela sorriu brandamente em resposta.
-As tuas também.
O sorriso de Dick se congelou em sua cara. 
-Quer que eu tire…?… toda a roupa?
-Sim.
A ira crescia em Colin.
 - Idiota!- disse ao Dick, que realmente parecia estar desfrutando da cena.
-Toma sua espada. Maldição, ela é só uma mulher, uma bebê. Vais ficar aí atirado como um…?
Dick riu.
– Ela já não é uma bebê, verdade, moça? Além disso, se a senhorita quiser minha roupa, Estarei encantado em obedecer.
Dick  ficou de pé, deixou cair seu cinturão, tirou-se suas botas, e começou a afrouxar os cordões de suas calças.
- Depois de tudo, é justo. Eu a espiei enquanto estava nua.
O entusiasmo de Dick enquanto se tirava as calças e a roupa interior só aumentou a irritação de Colin. Para sua surpresa, quando finalmente Dick se mostrava corajosamente ante ela, a mulher permaneceu indiferente a sua exibição de masculinidade.
Com a mão livre, ela recolheu o cinturão.
- Agora você - ela disse, cravando em Colin a ponta de sua espada.
Colin considerou que não o faria. Dick podia ter entrado naquele jogo, sorrindo como um idiota só coberto por sua túnica. Mas Colin estava certo a não conceder nada a uma mulher.
- Não -  ele disse.
 - Vamos - ela o apurou.  - É um pagamento justo por estar espiando.
- Não é um crime espiar aquilo que se exibe tão obscenamente - ele a repreendeu.
Ela já tinha ferido seu orgulho de cavalheiro. Ele não ia permitir ganhar a luta de vontades também.
A voz dela adquiriu um tom duro.  
– Tire a roupa, Já.
- Não -  ele disse também com um tom duro.
Apesar de que a espada nunca se moveu de seu pescoço, a mulher caminhou detrás dele, inclinando-se para lhe sussurrar no ouvido: - É perigosamente arrogante.
 Seu quente fôlego lhe produziu um calafrio que lhe percorreu o corpo, e a essência de sua pele recém-lavada era uma distração perigosa. Mas ele se negou a admiti-lo.
Com o silêncio dele, ela deu a volta para enfrentá-lo cara a cara, ela se agachou para estar diretamente em sua linha de visão. Colin não tinha outra opção, mas que olhá-la. O que viu fez que seu coração se acelerasse e que sua boca se secasse.
Graças a Jáh, ela já não estava nua, de outro modo a luxúria teria esmagado toda sua vontade. Ainda assim, sua fúria se derreteu instantaneamente, e era difícil para ele formar ideias, e muito menos emitir palavras.
Era bela, ele baixou seus olhos até o decote.
Ele respirou com dificuldade. Se ela tinha planejado desarmá-lo com sua beleza, era uma boa ideia. E funcionou até certo ponto. Mas enquanto ele continuava olhando sua formosa e feminina cara, ele se deu conta de uma verdade. Significativa. Apesar de toda sua bravura e palavras duras, ela era uma mulher. E o coração de uma mulher sempre era terno e compassivo.
A espada ameaçando sua garganta não era, mas que uma travessura. Ela nunca a usaria para machucá-lo. Não era mais perigosa que um gatinho.
-Não me cortará -  ele disse, desafiando seu olhar.
Ela franziu o cenho.  - Não seria o primeiro.
Colin não lhe acreditou por um instante.
Dick, preocupado pela séria mudança no intercâmbio de palavras, interrompeu com um sorriso.
-  ”Paz”, amigos. Não necessitamos que isto se converta em um assunto tão grave. Vamos,  tire a roupa como um bom moço, sim Colin?
Ela ficou de pé então - Sua roupa, Sr. Agora.
Colin estreitou seus olhos ante seu quadril, que estavam rodeadas por um pesado cinturão de cavalheiro que servia para sustentar a espada. O cinturão ia por cima de uma feminina saia vermelha.
-Não -  ele desafiou.
Um longo silêncio cresceu entre eles, carregando o ar como o vento antes de uma tormenta.
E então um raspou estalou. Foi tão inesperado e tão rápido que a princípio Colin não o sentiu.
- Santa Mãe de Jáh! - Dick murmurou assustado.
 Algo ardia no peito de Colin.
Era impossível, Impensável. Atônito, ele levou seus dedos ao lugar. Voltaram ensanguentados.
A moça o tinha talhado. A moça de cara doce, de voz suave,  tinham talhado sua carne.
Antes que ele pudesse recuperar-se para lançar um contra-ataque, ela levou a espada de volta a sua garganta, e ele foi forçado a agachar-se dobrado em dois como um animal ferido enquanto o sangue do corte superficial se escorria pela túnica rasgada.
Ele se tinha equivocado a respeito a dela. Estava completamente equivocado. Nenhum remorso suavizou seu olhar tranquilo.  Nada de piedade.  Nada de clemência. Poderia matá-lo sem pestanejar.
Nunca tinha visto tanta força de vontade em uma mulher. E só nos mais desumanos guerreiros tinha visto esse tipo de fria determinação. Ele impressionava e o enfurecia. Dobrado em dois, desamparado, olhando-a fixamente com ira silenciosa, não podia decidir o que sentia por ela, admiração ou ódio.
- Mãe de Jah -  Dick disse  - sabe o que fez?
Seu olhar nunca se desviou.  – Dei uma advertência.
- OH, minha lady -  Dick disse, sacudindo sua cabeça – Você provocou ao urso.
- É só um arranhão - lhe disse, estreitando seu olhar em Colin e adicionou - Para lhe recordar quem tem a espada aqui.
Colin sem deixar de olhá-la e permitindo um sorriso malicioso, adicionou:
 - Farei o que minha bela dama quer.

Por agora,. ele pensou. Mas em uns poucos dias, essa moça, teria o seu devido castigo por sua rabugice. 
(...)
Caminhava, desanimada, através do morro em direção ao lago.
Era uma bela paisagem, o gelo incrustado nas margens do lago. A neve emoldurava a água gelada em ambos os lados, cobrindo a terra de branco. 
Parada na margem, cruzei os braços sobre o peito, observava o lago. Quando vejo homens a cavalos entre as árvores, galopando na minha direção.
Corro ao longo da margem, sabendo que não tinha nenhuma chance de fugir. Gritei por socorro, com esperança que alguém pudesse ouvir e viessem ao meu socorro, mas uma bota choca-se contra minhas costas, fazendo-me cair na neve, o impacto foi com tal força que perdi o fôlego. Procurando ignorar a dor, tento me erguer para fugir.
Uma mão enrosca-se em meus cabelos e meu agressor puxa-me para trás e, em seguida, me joga de costas no chão. Vejo um grupo de cinco homens.
Tento enfrenta-los, mas não estou com a minha espada, nem com a minha adaga.

—O que vocês querem?— Eu grito.

O homem que segurava meus cabelos sorri. Furiosa, dou-lhe um soco. Ele grita de dor e cai para trás, dando-me a chance de fugir.
Mas não consegui ir muito longe antes que outro dos homens me jogasse novamente sobre a neve. O gelo encheu-me o nariz e a boca, uma dor latejante e intensa tomava todo o meu rosto.
Desta vez um segundo atacante acerta meu rosto com o punho. Fechando sua mão em torno do meu pescoço, apertando com força suficiente me impedindo de respirar.

—Pequena cadela— ele cuspiu.

Os outros homens reuniram-se próximos e então o primeiro atacante, com sangue escorrendo pelo arranhão que eu lhe tinha infligido.
Rasga o meu vestido, expondo meus seios. Lágrimas de raiva turvam minha visão.
O homem começou esbofetear-me, muitas vezes seguidas, sinto uma névoa de dor a me envolver. As mãos continuavam tateando meu corpo, manuseando e manipulando-me como a um animal.
Lágrimas quentes riscavam meu rosto dolorido. Nunca me sentira tão impotente em minha vida. Onde estava minha espada? Como iria me defender? Seria estuprada, incapaz de fazer qualquer coisa.
Jogam-me na neve, uma bota vem contra o meu estomago, sinto falta de ar.
Quando estava quase inconsciente, meu agressor inclinou-se sobre meu rosto e disse:
- Seu padrasto, manda lembranças. – Dando-lhe um tapa em meu rosto.

Os olhos de Clarie abriram-se bruscamente. Tremendo, olhou em volta. Demorou um instante para que percebesse onde estava. Cedera ao sono sentada em uma poltrona do quarto. Uma garrafa de brandy e um copo repousavam na mesinha ao lado da poltrona. Ela serviu-se da bebida, as mãos tremendo de tal forma que a garrafa batia na borda do copo, produzindo um som agudo.
Bebeu um, dois copos seguidos, enquanto tentava se acalmar. Impulsivamente pegou a garrafa e a lançou na parede, quebrando-a em vários pedaços.
Sabendo que logo, Samanttha entraria em seu quarto, perguntando o que aconteceu. Clarie pega sua capa, sua espada e sai do seu quarto, não tinha intenção de conversar com ninguém.
(...)
- Outra vez! - Clarie levantou seu braço e ordenou a Edmundo para que atacasse uma vez mais.
 
Ed investiu com um sorriso selvagem, e suas espadas se chocaram produzindo uma série de faíscas.
A violência era purificante, algo que lhe revitalizava, acalmava. Sem saber o motivo, o sonho que tivera a noite, tinha deixado ela irritada, como não tinha intenção de comentar a ninguém, tinha que se distrair para esquecer-lo.
O escudo de Edmundo chocou subitamente contra o de Clarie, sacudindo seus ossos. Clarie se equilibrou, devolvendo um golpe horizontal de sua espada que teria cortado a qualquer um pela metade. Mas Edmundo foi rápido. Saltou para trás, então e se agachou bem a tempo para ficar debaixo da espada de Clarie.
 
A-ha! - ele gritou, com a ponta de sua espada sobre o queixo de Clarie, seus olhos acesos com a vitória. 

A imagem daquele homem com quem sonhava, apareceu em sua mente outra vez e seu pulso começou a acelerar-se.

- Trabalha em sua velocidade, preguiçosa - Edmundo provocou, interrompendo seus pensamentos. – Você hoje está muito distraída, assim não terá diversão alguma em derrota-la.

As palavras do Edmundo ecoaram em sua alma. Pelas Deusas. O que lhe passava? Ela não era uma donzela frágil, boba e apaixonada. Ela era Heloise Clarice Ataide. Tinha açoitado ladrões, matado homens culpados ou inocente, domado feras e ferido bandidos. Não permitiria perder seu tempo com um sonho bobo.

A fúria esquentou suas bochechas. Empurrou a espada de Edmundo a um lado com seu escudo.

- Outra vez! – falou.

Faíscas explodiram quando suas espadas se chocaram uma vez mais. Edmundo girou e saltou, movimentava sua espada como se fora de brinquedo, mas o escudo de Clarie estava sempre ali para responder. Enquanto Ed mostrava todos seus truques, Clarie poderosamente rebatia os golpes com sua própria espada, mantendo longe a de Edmundo com sua força e uma crua determinação que não  permitia que fosse derrotada.
Mas não era Edmundo a quem ela procurava ganhar, a não ser os demônios que habitavam seus pensamentos.
Ela desviou a espada de Ed que ia para sua cabeça.
Ela avançou incansavelmente, golpeando a mão direita e sinistra em rápida sucessão, até que Edmundo estava contra a cerca.

-Heloise, Edmundo. – Samanttha os chamou ainda distante, fazendo Clarie abruptamente parar. 

Edmundo usou a distração para deslizar-se por debaixo da guarda de Clarie, para golpear as costas delas com o anverso de sua espada.
- Regra, numero um Clarie, nunca se distraia quando estiver em um combate. Estaria morta agora. – Disse Ed com um malicioso sorriso.

-Vocês não vão comer? - Falou Samanttha, parando a uma boa distância com suas mãos em seu quadril.
Clarie a ignorou, aproveitando a distração de Edmundo, investindo nos joelhos dele.
Edmundo saltou por sobre a espada e devolveu um golpe que se ela não tivesse agachado-se, teria arrancado a sua cabeça.
Samanttha fez cara de espanto, levando suas mãos ao rosto.
Ed rodou, então se arqueou e saltou ficando de pé outra vez, pronto para batalhar. 

-Parem.- Samanttha grita. 

Clarie bloqueou o próximo golpe de Ed. e ordenou sobre seu ombro.

-Volta para dentro, Samanttha.
-Mais já está na hora do jantar.
- Jantar? Clarie girou, então lançou um olhar ao o sol, estava baixo no céu. O tempo tinha pirado nesse dia.
- Sim - Samanttha disse – A horas vocês estão nisso. Logo vai anoitecer. -Sorrindo em seguida para Edmundo em busca de apoio.

Esse instante de distração lhe custou um pequeno corte na bochecha da espada de Clarie. Ele fez um gesto de dor, apertando os dentes.
- Cuidado com as distrações. – Soltou Clarie, com um sorriso no rosto.
Samanttha conteve a respiração.
-Talvez devêssemos entrar - Edmundo disse, abaixando sua espada.